Custou, mas foi: a nova empregada começa na terça-feira, sob a atenta supervisão da avó N.
Alguém me diz quando é que volta a ser possível passar uma manhã no cabeleireiro sem peso na consciência?
A M. rosna. Rosna mesmo, quando está chateada, mas sobretudo quando está naquele ponto em que está cheia de sono, mas resiste estoicamente ao fechar dos olhos.
A M. cospe. Não sei quem foi o engraçadinho que lhe ensinou, nós rimo-nos à brava da primeira vez, mas agora não pára, o que significa que está constantemente com baba no queixo.
A M. dá puns. Vários, sonoros, seguidos. O almoço do nosso 3.º aniversário de casamento no restaurante chiquérrimo da Fortaleza do Guincho foi interrompido por uma sessão que nos deixou roxos de vergonha, mas a rebentar de riso.
Suponho que isto será tudo reversível...
Esta coisa de ser mãe trabalhadora dá trabalho, daí a semana sem posts.
Não há nada como nos dizerem que os nossos filhos são lindos. Eu e o J. passamos a vida a dizê-lo ("Ela é mesmo bonita, não é?", repetindo a frase deliciosa do nosso sobrinho J. que nos ficou no ouvido e no coração), mas ouvir de outras pessoas, digamos que menos tendenciosas, faz-nos baixar as barreiras e sorrir de modo aparvalhado.
Na segunda-feira de manhã, fizémos a mala, ou melhor dito, o malão. Sim porque viajar com um bebé, mesmo que seja apenas por duas noites, involve malão: fraldas, mudas de roupa (muuuuitas), saco para o frio que encaixa no ovo, produtos de higiene, toalha de banho, chuchas, gorro, luvas, babetes e mais uma infinidade de coisas.
Na ida para o aeroporto, a revisão mental de tudo o que arrumámos e a dúvida sobre o que falta e quando lá chegámos..."Esqueci-me das toalhitas!" (FYI, não se vendem toalhitas no aeroporto de Lisboa).
No balcão do check-in, dizem-nos que conseguiram dar-nos lugares juntos (mas alguém sabia que havia hipótese de não ser assim?).
Já no avião (meio vazio por sinal), convencemos a tripulação a deixar entrar o ovo que a rapariga já pesa 7 kgs e a dormir parece pesar mais 10. Mamoca quando levantámos, sonhos de cor-de-rosa depois e mais mamoca quando aterrámos e, de repente, chegámos a Genève.
O frio não assustou a M. que, desde que esteja ao pé dos pais e bem alimentada, tanto lhe faz estar em casa dela, como num hotel chique na Suiça.
Eu lá fui assistindo à minha formação, o J. foi inventando mil e uma maneiras de entreter um bebé de quatro meses e meio que dorme pouco durante o dia, os coffee-breaks passaram a milk-breaks (a M. já experimentou o verdadeiro conceito de fast food, dado que intervalos de dez minutos não são breastfeeding friendly) e ainda deu para ela fazer umas gracinhas para os meus colegas no intervalo do almoço.
O regresso foi igualmente pacífico, apenas com uma pequena birra de sono; depois do banho, a M. estava de tal modo esgotada que adormeceu sem mamar e só acordou às cinco e meia da manhã.
Em suma: o J. ganhou (ainda) mais cabelos brancos, eu aprendi imensas coisas sobre financial statements e a M. fez a sua primeira viagem de avião.
Hoje, levámos a M. ao Concerto para Bebés. O tema era Marimbas ao Vento e, além dos músicos residentes, tocava um conjunto de percurssão.
Já mil pessoas devem ter dito isto, mas eu tenho mesmo que repetir: é, no mínimo, surpreendente como é que estão 60 bebés e crianças pequenas sem choros, birras ou gritos durante 45 minutos.
A M. ficou ao meu colo, com o pai atrás, mesmo na fila da frente: ouviu com atenção, olhava para os músicos e para os outros bebés e quando o clarinete chegou a centímetros dela, nem estremeceu.
Os sons, a vibração dos instrumentos, as luzes, as vozes... deve ter sido uma experiência tão intensa que a M. está a dormir profundamente há várias horas e, volta e meia, sorri.
Leio e ouço muitas mães que passam a vida a querer que os filhos passem rapidamente para um novo estádio. São aquelas que às 37 semanas de gravidez já estão a dizer que sentem que o parto está quase, quase, que acham que bebés com quatro meses já estão fartos do leite e parece que pedem a nossa comida (juro que já ouvi isto), que anseiam pelo momento em que as crianças deixam o ovo e passam para a cadeira.
Eu, no meu egoísmo de mãe, quis que a M. ficasse o mais tempo possível dentro de mim, quero que continue a alimentar-se exclusivamente do meu leite até ser a melhor opção para ela, quero que ela continue a ser bebé o mais tempo possível. Isto passa tão rápido que já nem me lembro do terrível primeiro mês e tudo me parece um mar de rosas.
Prefiro que ela cresça devagarinho, sem pressas, porque, como diz o povo, a pressa é inimiga da perfeição.
A semana caótica acabou por ter um efeito positivo: o estágio intensivo com os quatro avós fez com a M. deixasse de estranhar tanto as pessoas. Hoje fartou-se de rir para uma amiga da minha mãe durante o passeio matinal e enquanto a vestíamos, a seguir ao banho, tivémos direito a nova sessão de gargalhada, enquanto o J. lhe fazia cócegas na barriga.
Às onze e tal da manhã, a empregada lá resolveu telefonar ao J. a avisar que não podia ir, porque as análises que tinha feito (esteve doente há duas semanas) revelaram a presença de uma bactéria supostamente contagiosa e, por isso, não podia estar ao pé da M.. Primeiro momento de pânico: então e a semana passada?!?
É claro que depois destas horas sem aparecer nem atender o telefone, a guia de marcha já estava preparada, mas para que não restassem dúvidas, a conversa continuou: que tínhamos que falar, porque a nossa casa era muito longe, que gostava muito de nós e da M., mas não conseguia acordar tão cedo, que, que, que...!
E eu: "Ó T., então não vem mais, acabou-se. E as chaves?". Combinação para as chaves, eu a despachar para dar a conversa por terminada antes que me desse vontade de mandá-la a sítios impróprios e ela sai-se com "Mas eu preciso de trabalhar, a Sra. Dra. não sabe de alguém que precise de empregada aqui na minha zona?"
Como disse??!!?? Quer que eu, a quem, uma semana depois de ter ido trabalhar, deixou pendurada, com uma bebé de quatro meses, a recomende a alguém que eu conheça? Eu, que me dei ao trabalho de contratar uma pessoa quando ainda estava grávida? Eu que passei da fase de escolher uma pessoa com mil e um critérios para começar meses antes para a fase do "desde que tenha dois braços e possa começar já, está contratada"? Nem para plantar batatas!
A conversa acabou comigo a dizer-lhe que me telefonasse depois de ir ao médico, para perceber essa história da bactéria...