Costumo ver um programa na SIC Mulher que basicamente é um reality show que segue a vida da stylist Rachel Zoe. A Rachel Zoe é uma completa workaholic, não fala nem pensa em mais nada a não ser roupa, provas, clientes, desfiles e afins e passa a vida a viajar entre Los Angeles, Nova Iorque e as ditas capitais europeias da moda.
Nesta temporada, cada episódio é movido pela absurda pressão de todas as pessoas que aparecem nos episódios - marido, irmã, pais, amigos, colegas, clientes - para que ela engravide. Não falo apenas das perguntas em tom de piada de que todos os recém-casados ou juntos são alvo, mas sim de conversas sérias que giram à volta do tema "estás a ficar velha demais, tens que te despachar". E se o marido tem legitimidade para impôr o tema, o resto das personagens quer à força transformar a estilosa Rachel Zoe numa extremosa mãe de família, se calhar sem nunca ter realmente percebido se ela quer ou não ser mãe.
No último programa, a Rachel Zoe expressa dúvidas sobre todos os potenciais impactos que uma gravidez e um filho significam. É verdade que provavelmente a maioria das mulheres que quer ser mãe também tem dúvidas, mas quem ouve Rachel Zoe fica com a sensação de que as dúvidas - serei fisicamente forte para aguentar a gravidez, serei psicologicamente forte para encarar eventuais problemas, conseguirei continuar a trabalhar com a mesma dedicação, etc., etc., etc. - se subsumem a uma grande dúvida: será que quero mesmo ser mãe?
Há pessoas que foram pais porque cederam a peer pression, porque era isso que se esperava delas, porque os pais teriam um desgosto muito grande, porque... E não digo que alguns destes pais não venham a ser bons pais e acabem por dizer para com os seus botões "E pensar que eu nem queria isto?!?", mas por que é que um filho tem que ser um projecto obrigatório para todos?
PS: Na vida real, que vai uns episódios à frente do The Rachel Zoe Project, a Rachel Zoe está prestes a ter um filho.